segunda-feira, 17 de agosto de 2009

RECONCILIAÇÃO E RESSURREIÇÃO

Por Maycon Mazzaro

Na contramão da corrente existencialista, que afirma que o homem é um ser para a morte, acredito que o homem é um ser para a ressurreição. É muito difícil falar sobre o “futuro” do homem, mas recorro a uma passagem do Evangelho, mais precisamente em Mateus, onde alguém diz a Jesus: “Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai”. Todos sabem que Jesus não seria contrário ao dever do filho de enterrar seu pai, mas vê neste homem alguém que caminha para trás, que leva sobre seus ombros uma carga tão pesada do passado que não o deixa seguir em frente, tomar as rédeas de sua vida. Por isso Jesus responde daquela maneira: “Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos”. O que Ele quis dizer é que aquilo que passou, que deixamos para trás, está morto, será lembrado pelo que representou em nossas vidas, mas não pode impedir a nossa caminhada. É uma bela imagem do mistério da reconciliação. Re-conciliar significa tornar harmônico o que antes havia se discordado, unir o que está separado, significa encontro. Reconciliação é o que Jesus realizou na cruz, fazendo com a humanidade uma nova aliança. O que Ele nos propôs foi que deixássemos para trás as coisas passadas, os homens e mulheres velhos que éramos para que nos tornássemos homens e mulheres novos. Reconciliação do gênero humano. Ressurreição.

As folhas de uma árvore morrem porque são conduzidas pela vida, por obediência à vida. O tempo me empurra para frente porque é a reconciliação dos homens e das coisas que me impulsiona. Toda a vida está numa etapa de reconciliação, caminhando, assim, rumo a um encontro. Todo o ciclo da vida encontra-se debaixo da lei da ressurreição. Que assim seja! As tardes caem para que as noites possam nascer. A vela queima para que possa iluminar. As sementes morrem para que uma nova vida germine. Tudo prepara uma forma de depois, o agora se torna uma passagem constante que nos conduz para frente. O que fizemos ontem foi essencial para sermos o que hoje somos. Arrependimentos sempre virão, pois somos sensíveis a nós mesmos, não sabemos não ser. Sofrimentos são pedaços de nós que ficaram espalhados pelas esquinas da vida; esquinas que dobramos com o desejo de alcançar outras esquinas. É preciso nos recompor, encontrar todos esses pedaços e juntá-los, reintegrando-os ao nosso todo, para podermos encontrar a nós mesmos.

Acredito que o mais belo sacramento de nossa Igreja seja a Reconciliação. Recolher os meus pedaços que ficaram pelas esquinas é uma obra de amor, por mim mesmo e pelas pessoas que me amam. O sacramento da Reconciliação me lembra que não estou acabado, que o meu passado não pode impedir os caminhos que tenho para seguir. Deus criou os homens para que fossem intimamente unidos a Ele. Mas somos feitos de barro, temos infiltração, nossas paredes desabam. Precisamos correr o risco de deixar essa velha casa para trás e nos refazer a cada dia, permitindo que, mesmo distantes e perdidos, Deus nos devolva a bela morada para a qual nos destinou. O passado, então, já é morto e o que devemos desejar é a sacralidade de cada dia. Buscar a Reconciliação é aceitar que definitivamente não fomos feitos para a morte, mas para o encontro da vida, a Ressurreição.

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