sábado, 16 de outubro de 2010

TROPA DE ELITE 2

Por Padre Caio Augusto de Andrade


Todo bom filme não depende apenas da qualidade de sua produção ou do bom desempenho de seu elenco, mas dos elementos interpretativos que são oferecidos aos seus expectadores e os ajudam a entender melhor a realidade deles. Com um realismo frio e violento, ora com uma linguagem vulgar das ruas (com 135 palavrões) e ora com uma narração sapiencial de quem procura uma sabedoria de vida, Tropa de Elite 2 é um filme que nos ajuda e entender a nossa realidade humana, principalmente, o ideal de pessoa humana.

A sua direção soube captar esse ideal de ser humano o qual a maioria dos brasileiros projeta, mesmo que eles nunca consigam alcançá-lo. Trata-se de um modelo de herói que se constrói em torno do Capitão Nascimento (Wagner Moura). Assim como os heróis clássicos da Grécia antiga (Ulisses, Aquiles, Nestor e Menelau nos poemas Odisseia e Ilíadas), Capitão Nascimento, apesar de ser um fracasso na vida pessoal e familiar, possui uma virtude (arete) que é constante nos dois filmes Tropa de Elite: a incorruptibilidade. A sua luta não é só contra os ladrões e bandidos, mas contra o vício: a corrupção. O que busca é a purificação das pessoas e todo sistema policial e político.

Esse ideal pressupõe o ethos dos brasileiros, isto é, o nosso modo de ser, pensar e de relacionar. O esse ethos mostra, ao mesmo tempo, uma imagem negativa e positiva de nós mesmos. Negativa porque confirma que a maioria dos brasileiros é corrupta. Positiva porque constata a existência de uma vontade honrosa de virtude como a incorruptibilidade.

Portanto, a luta do capitão Nascimento nos questiona sobre o que ou quem deixa as pessoas melhores hoje. Seriam as escolas cujos professores não se sentem estimulados a educar na virtude? Seriam as igrejas cuja missão consiste em expandir e arrepanhar o maior número de fiel, mesmo a custa da exploração dos vícios e ambições humanas por meio de uma teologia da prosperidade? Seriam os pais que passam o maior tempo longe de suas famílias por causa do trabalho? Seriam as leis que se fundamentam mais nos direitos humanos do que nos deveres humanos?


Nenhum comentário:

Visitas