domingo, 10 de outubro de 2010

As memórias são os outros.

Nossa vida é feita de memórias. Construímos a história a partir das memórias que temos, memórias que nos constroem a cada instante. Cada pedaço de mim que ficou pelos caminhos trilhados, pelas esquinas que passei procurando por algo que nem mesmo eu sabia o que era, tem em si o poder de falar de mim, das minhas experiências, das minhas dores e alegrias. Inúmeros objetos podem trazer consigo memórias que me tocam, pois me fazem lembrar de momentos singulares de uma vida que está em construção. Mais que objetos, as pessoas trazem em si a relevância de experiências que me fizeram crescer, amadurecer. Pessoas que me ensinaram a caminhar mais do que eu mesmo imaginava conseguir. E quando recordo dessas pessoas eu só posso cantar:

Quando a solidão doeu em mim
Quando
meu passado não passou por mim
Quando eu não soube compreender a vida
Tu vieste compreender por mim

Quando posso parar um instante, faço memória das pessoas que me ajudaram pelo caminho. Quando aquelas mãos evitaram a minha queda ou mesmo quando elas não quiseram evitá-la, mas me ajudaram a levantar. Companheiro de verdade é esse, que sabe ler os sinais, propõe novas possibilidades mas não tiram de nós a autonomia da escolha. Se é pra evitar a queda, ele está lá; se a queda aconteceu, suas mãos me inspiram e ajudam a continuar.

Quando os meus olhos não podiam ver
Tua mão segura me ajudou a andar
Quando eu não tinha mais amor no peito
Teu amor me ajudou a amar

Sim, nossa vida é feita aos poucos. Estamos constantemente lembrando e esquecendo de nossa memória. Partimos e sentimos a dor de partir. Nossas lágrimas mostram a expressão de uma liberdade que só pode existir dentro de cada um. E como nós queremos essa liberdade! Carregamos a herança de nosso passado. Somos uma reunião de experiências, determinando uma construção que está ainda no começo. Há pessoas que nos fazem lembrar que também somos feitos de sonhos. Pessoas que transformam nossas “vidas secas” em lagoas e mares azuis, cheios de esperança. A essas pessoas, as mais belas memórias de um mundo vivo dentro de nós, desejo que sejam sempre assim: memórias vivas.

Quando o meu sonho vi desmoronar
Me trouxeste outros pra recomeçar
Quando me esqueci que era alguém na vida
Teu amor veio me relembrar

Relembro assim, minha vida eu construo assim. Recolho os pedaços que ficaram pelas esquinas e peço ajuda para junta-los. Sou um ser inacabado e só posso ser terminado quando todas as minhas memórias estiverem acesas e vivas dentro de mim. Eu sou assim.

Tens o dom de ver estradas
Onde eu vejo o fim
Me convences quando falas
Não é bem assim
Se me esqueço, me recordas
Se não sei, me ensinas
E se perco a direção
Vens me encontra...

Tens o dom de ouvir segredos
Mesmo se me calo
E se falo me escutas
Queres compreender
Se pela força da distância
Tu te ausentas
Pelo poder que há na saudade
Voltarás...

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