“O meu olhar é nítido como um girassol. Tenho o costume de
andar pelas estradas olhando para a direita e para a esquerda, e de vez em quando
olhando para trás... E o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes tinha
visto, e eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial que tem uma
criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada
momento para a eterna novidade do mundo.” Alberto Caeiro
Torna-se muito difícil conjugar o passado com o novo. Ainda mais se esse passado não estiver, necessariamente, enterrado num cemitério abandonado. Precisamente, estamos no tempo e isso significa que caminhamos na medida em que ele permitir. Fora do tempo tudo se torna nada, no entanto, se permanece inalterado, torna-se eterno.
Em oposição, o novo é temporalidade. É o tempo em constante movimento e mudança. Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) casou, de forma brilhante, esses dois fenômenos: a “eterna novidade”. Isso é possível se olharmos e entendermos o homem como ser instável, ou seja, um ser em transformação. Tudo aquilo que se transforma, transforma-se em algo novo, isto é, uma novidade. Se existe transformação é devido ao fato de o objeto em constante mudança ser eterno, ou, pelo menos, ter uma longa existência.
No caso de Alberto Caeiro, o objeto mutável é o mundo, que se transforma constantemente (eterna novidade) causando no poeta o sentimento do nascer a cada momento, ou seja, de descobrir um mundo novo a cada instante de sua vida.
Podemos observar tal sentimento, ou percepção de Caeiro, no correr de nossa vida. Ao lermos um livro encontraremos nele uma mensagem. Se lermos diversas vezes o mesmo livro, teremos, a cada leitura, uma nova percepção dessa mensagem. Ao pintarmos um quadro estamos transferindo a ele nossos sentimentos, por isso, se pintarmos várias vezes inúmeros quadros, a não ser esse houver cópia, estaremos pintando diferentemente a cada um deles.
A arte, portanto, em suas mais diversas composições, transfigura o objeto existente numa outra realidade, que o faz renascer para o mundo. Esse “desvendar” do mundo existente, recriando-o em uma outra dimensão, mostra-nos que é possível tornar “eternamente nova” uma realidade, que não está fora da obra, nem mesmo está contida nela, mas é “a própria obra de arte”.
Maycon Mazzaro
15/04/2008
2 comentários:
Kramba... vc tá na era da informação???? quem diria! Bons textos, espero que vc continue escrevendo assim. Seja sempre "Novo", meu amigo. Bjs
Mac, tu estás de parabéns pelo blogg. Atualiza ele, pô... rss
Beijos, guri... Bia
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