domingo, 14 de novembro de 2010

Um tributo à poesia...


A poesia sempre esteve presente em minha vida. Escrever é dar um pouco da própria alma a quem lê. Na ação de escrever está velado o mistério, o inusitado, o imprevisível, que convivem com a poesia. Nos pedaços em que ela se cala, entre uma linha e outra, surge o poeta. Victor Hugo dizia que “há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”. A poesia nos coloca, diante das palavras, em profundo estado de contemplação. É exercício respiratório, catarse, espasmo, oração, orgasmo. Apesar da consternação de nem sempre conseguir expressar o que deseja, o poeta traduz em linhas e rabiscos o que sente na alma.

Dizia eu que a poesia faz parte da minha vida. Sempre gostei de ler, de escrever, mesmo que fossem besteiras futebolísticas em um caderno velho. Cresci lendo as estórias de mistérios do escritor Pedro Bandeira, que me convidava, a cada linha, a mergulhar no oceano de aventuras de sua imaginação literária. Já na adolescência, conheci e me apaixonei pelos escritos de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), que se dizia “Guardador de rebanhos”. Nesta época, tive minhas primeiras experiências poéticas. Escrevia muito – tão pouco se aproveitava – sobre tudo e, principalmente, sobre as revoltas da adolescência. Escrever nesta fase da vida me possibilitou um considerável autoconhecimento.

Veio a juventude e os primeiros passos acadêmicos. A história me fascinava. Conheci as obras de Bertold Brecht, o poeta da cidade, que com maestria soube pensar e escrever a respeito do homem urbano e de sua sociedade. Iniciei o curso de filosofia e experimentei a poesia apaixonante de Goethe. Na mesma época, nas aulas da professora Constância Terezinha Marcondes César, pude chocar-me com o imaginário poético-filosófico de Gaston Bachelard, para quem a imaginação é “a própria experiência da abertura, a própria experiência da novidade”. Ainda nesta fase, conheci uma outra forma de contemplar a vida com a poesia: falo de Johann Sebastian Bach e sua magnífica obra. Ouvir Bach é mergulhar de olhos fechados na misteriosa aventura de apaixonar-se.

A poesia tornou-me mais humano. A experiência da leitura-degustação poética deu-me a oportunidade de sentir as palavras como se fossem vivas – e descobri que elas realmente estão vivas. A filosofia ganhou nova clareza e a teologia, novo conceber. Passei a ler os Evangelhos com o gosto de quem experimentava uma fruta saborosa. As palavras passaram a dar sentido fundamental às coisas. A palavra passou a ser companhia necessária. Ganhei muito com a leitura de grandes poetas, mas também me nutri com a paixão e a utopia dos escritos proféticos do Padre Zezinho, de Dom Pedro Casaldáliga e Dom Hélder Câmara. Refleti muito com as palavras perturbadoras de Leonardo Boff, Jon Sobrino e Santo Agostinho. Fui seduzido pela contemplação poética de Santa Teresinha do Menino Jesus, com a qual, verdadeiramente, tive inúmeros devaneios passionais.

O professor Gabriel Chalita me apresentou a obra encantadora de uma mineira, Adélia Prado. Ela planta flores na borda do vazio existencial, produz obras que perturbam os sentidos e propõem uma nova concepção estética de inserção do sujeito em seu contexto social. Adélia espelha flagrantes da cultura, paixões, anseios e realizações do humano e tantas formas de expressão da vida. Essa vida que, fecundada pela semente do fascínio que se escorre nas veias do discurso, faz-se transfigurada, a cada página desvelada, a cada mistério perscrutado com beleza, engenho, arte e sutileza.

Os artistas possuem a fantástica capacidade de nos presentear com o Belo. Experiência presente nos versos da Legião Urbana, do Teatro Mágico e nas letras exuberantes de Humberto Gessinger e Herbert Viana.

A poesia me encanta, me revela Deus presente em cada verso. Continuo escrevendo, quando me resta tempo. Queria eu que todo tempo fosse momento de escrever. Isso é impossível, mas temos a possibilidade de fazer poesia com a vida, escrevendo cada dia um novo verso, inundado por Deus e repleto de magia. Palavras são portas que se abrem para quem nelas quer entrar.

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