sábado, 11 de setembro de 2010

O Caderno



Composição: Toquinho / Lupicínio Roderigues


Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco
Até o be-a-bá.
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha
Duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel...

Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
E acompanhar nas provas
Bimestrais, você vai ver
Serei, de você, confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel...

Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem
Seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá
Num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel...

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer...

Só peço, a você
Um favor, se puder
Não me esqueça
Num canto qualquer...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pedras lapidadas

Assim como a pedra mais preciosa, para chegar ao seu formato mais bonito, precisa ser lapidada, também o ser humano carece ser trabalhado. “Lapidar” o ser humano é um trabalho difícil e sensível, e podemos chamá-lo de construção de sentido. Dar sentido às coisas é ato de amor. O “belo” da pedra preciosa não pode se limitar ao seu atrativo estético e exterior. O “belo” precisa ser percebido nos detalhes, descobrir que algo daquela beleza está além das suas formas, algo que chama, que fala à minha experiência de vida, como se aquela beleza fizesse falta ao imperfeito que sou.

Ato de amor. O amor é a capacidade de ver o outro de forma diferente. Em meio à multidão você percebe o outro, ele se torna especial, tem um sentido para sua vida. O ato de amor, que é dar sentido às coisas, é esse “retirar” o outro da multidão, separá-lo do comum para um lugar especial. Necessariamente, amar é descobrir a sacralidade do outro. Descobrir, perceber o sentido que as coisas têm para mim é lapidar o diamante sem forma, dando-lhe contornos indizíveis. É deixar de lado a superfície e atingir o mais profundo.

A vida humana é um imenso garimpo, onde os garimpeiros procuram as pedras mais preciosas. Nela os diamantes ainda permanecem preservados. O amor é revelação, inauguração, tem o poder de transformar aquilo que é velho em novidade. Mudar a pedra sem brilho no mais brilhante tesouro. Pode parecer surpreendente, e certo que é, mas o amor tem o poder de retirar a lasca, de curar a ferida, de imprimir um novo sentido ao que antes era apenas pedra, dura e suja. É o milagre da transubstanciação, quando, por força do amor, podemos fazer uma realidade ser outra. O ser humano é assim, quando tocado pela força transformadora do amor, abre-se para uma nova realidade. Mas o que nele é transformado, os olhos humanos despreocupados não conseguem ver. É algo que não podemos compreender, é o humano sendo banhado pelo divino, é o sentido daquilo que amamos nos falando, dando-nos novo sentido para a vida.


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