quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

VOCAÇÃO SACERDOTAL: SAUDADE, ETERNA COMPANHEIRA


“Caminharei por Ele, que é o Caminho. Pregarei com Ele, que é a Verdade. Morrerei n’ele, que é a Vida. Com Ele, até a dor é alegria. Sem Ele, até a alegria é dor”.



Tem dia que bate uma saudade...


Saudade de quem está longe, saudade de nossa infância, das brincadeiras de criança, do colo amoroso da mãe, das conversas acaloradas e despreocupadas entre amigos, saudade de momentos especiais e inesquecíveis, saudade do silêncio, saudade de Deus. Saudade de quem partiu para sempre de nossas vidas, se é que pode haver uma eterna partida.


Não trato em minhas palavras de saudade materialista, mas de completude. Não é apego egoísta às coisas materiais ou às pessoas coisas, mas é amor por aquelas pessoas que, ao passar em nossas vidas, cativaram nossos corações. Trata-se da pessoa completa, inteira, total.

Saudade é uma palavra intrigante. Não sabemos o que é realmente, mas sentimos as dores que traz. Largar tudo... talvez a grande maioria das pessoas não entende o que isso significa. Abandonar a família, os amigos, a vida profissional e segura, para seguir numa estrada da qual não sabemos absolutamente nada. Sim, o “largar tudo” é condicional aos que querem aventurar-se nesta misteriosa estrada. Saudade. Opúsculo nobre dos que amam e deixam ser amados. Perturbadora. Para quem não sabe o real significado da expressão “largar tudo”, talvez não entenda quão perturbadora é a saudade.


Penso que é por isso que dói. Dor de verdade, não uma angústia interior. Dói fisicamente, pois marca profundamente a carne. A despedida, a distância, a mudança de vida diante de alguém que deverá ficar para trás, de alguém que pouco, ou até nunca mais veremos, que já não poderemos tocar. Ô, Saudade doída! Penetrante na alma... estigma na carne.


Se não tivermos um olhar diferente sobre a saudade, corremos o risco de reduzi-la a dor. E esse olhar é de quem tem opção convicta e apaixonada de que deve “largar tudo”. Aos poucos a tristeza e a dor cedem lugar a uma serena saudade – não menos inquieta que outrora – e uma sincera esperança de que o “largar tudo” é condição primeira para “oferecer inteiramente” o que as pessoas precisam. Por isso desejamos largar tudo: para oferecer-nos inteiramente aos que carecem profundamente de amor.


E a estrada nos ensina, a cada passo dado, a beleza estonteante da vida e, conseqüentemente, o cuidado que devemos dispensar em aproveitar o nosso hoje, em amar sem medidas, em ensinar e aprender, em perdoarmos, em sermos santos hoje, em buscar a justiça sempre. O santo padre Bento XVI já nos disse: “Vocês, jovens, não são o futuro da Igreja e da sociedade... vocês são o presente da Igreja e da sociedade!”. Opção, não destino. Fazemos a opção de seguir os passos de Jesus de Nazaré. Por Ele renunciamos a ter nossas casas, nossas famílias, renunciamos aos prazeres e oportunidades que o mundo oferece, às riquezas, às honras. O que importa? A saudade traz consigo a dor, mas a dor traz oculta em si a graça, aquela abrigada na cruz. Da crise da saudade vem o crescimento e a maturidade da ressurreição. E, depois de um tempo, a saudade volta, não mais como lacuna vazia, mas como companheira: ela nos traz a esperança, mensageira do Amor!


Saudade. Largar tudo. Memória. O que importa? Ele abriu essa estrada. Sofreu essas dores. Morreu por nossas vidas. Caminhamos por Ele, que é o Caminho. Pregamos com Ele, que é a Verdade. Morreremos n’Ele, que é a Vida. Com Ele, até a dor é alegria. Sem Ele, até a alegria é dor. Iremos entre os pobres e os socorreremos, mesmo que nos expulsem. Amor sem medida e sem restrição. E o amor... este nunca largaremos!


Maycon Mazzaro 26/11/2008

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